A recente ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central trouxe à tona a possibilidade de um aumento na taxa de juros, a Selic, nos próximos meses, devido ao cenário econômico atual do Brasil. Essa medida se justifica pelas persistentes incertezas fiscais e pelo aumento das expectativas de inflação. Desde que o governo federal alterou as metas fiscais, as projeções inflacionárias têm subido, com o mercado demonstrando ceticismo quanto à capacidade do governo de controlar os gastos públicos e estabilizar a economia.
Um dos principais argumentos do Banco Central para uma eventual alta nos juros é a necessidade de re-ancorar as expectativas inflacionárias. Atualmente, as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2024 e 2025 estão acima da meta estabelecida, refletindo as pressões inflacionárias que podem ser exacerbadas por um cenário global instável e pela resiliência da atividade econômica doméstica.
No entanto, a elevação da Selic traz consigo uma série de impactos econômicos. Primeiramente, um aumento nos juros tende a encarecer o crédito, afetando o consumo das famílias e os investimentos das empresas. Setores que dependem fortemente de financiamento, como o imobiliário e o automotivo, podem sofrer retrações significativas. Além disso, a elevação da taxa básica de juros também pode reduzir o ritmo de crescimento econômico, já que o custo do dinheiro mais alto desestimula novos projetos de investimento.
Por outro lado, um aumento na Selic pode ajudar a conter a inflação, que corrói o poder de compra dos consumidores e afeta o planejamento das empresas. Ao manter a inflação sob controle, o Banco Central busca garantir um ambiente econômico mais estável a médio e longo prazo, o que é essencial para o crescimento sustentável.
Exemplificando, o setor de construção civil, que depende amplamente de crédito para o financiamento de obras e para a compra de imóveis pelos consumidores, pode ser um dos mais impactados pela alta dos juros. Com a Selic mais elevada, as taxas de financiamento imobiliário também sobem, tornando mais caro e difícil para as famílias adquirirem imóveis, o que pode resultar em uma desaceleração nas vendas e nos lançamentos de novos projetos.
Outro exemplo pode ser observado no setor de consumo. Com o crédito mais caro, as famílias tendem a reduzir gastos, especialmente em bens de maior valor, como automóveis e eletrônicos. Isso pode gerar uma queda nas vendas do varejo e pressionar as empresas a revisarem suas estratégias de expansão e investimento.
Em resumo, enquanto o aumento dos juros pode ser uma ferramenta eficaz para conter a inflação, ele também carrega consigo riscos de desaceleração econômica e impacto negativo em setores-chave da economia. O Banco Central, ao sinalizar essa possibilidade, demonstra a importância de equilibrar o controle inflacionário com a necessidade de manter o crescimento econômico em um ambiente desafiador e incerto.
Júnior Montan é assessor de investimentos da InvestSmart-XP; graduado em Economia pela Uni Dom Bosco – Paraná.








