Chica Peixeira, o retorno | Por Públio Cunha
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Chica Peixeira, o retorno | Por Públio Cunha

Chica Peixeira, o retorno | Por Públio Cunha

E olha quem é que eu encontro? Ela, estrela das feiras do Nordeste, a mascate mais requisitada dos rincões do Sertão, nada mais, nada menos, que Chica Peixeira, a ‘Big Star’ dos apetrechos. Naturalmente, não perdi tempo, fui logo perguntando: como é que tu tá Chica? Rodando por onde?

E Chica, deu logo a “letra”: Oh Amigo, não rodo mais não, inaugurei o meu ciclo sedentário, tava precisando me assentar, fiz até revisão das minhas “atividades”, você não tem ideia, uma verdadeira “revolução”…

Tomei um susto, fiquei perplexo com a novidade, afinal, se tratava da mais condecorada, concorrida e reconhecida comerciante ambulante do agreste, não era de se imaginar, tão precocemente, que iria largar a labuta que lhe deu tanta fama e sucesso financeiro, que revolução seria essa? Chica no seu irrepreensível estilo ‘True News’, detalhou os pormenores:: Descobri que a melhor mercadoria, a que gira com maior rapidez é o dinheiro, ele pode ir e voltar muito maior, e ,eu só ajustei o “modus operandi”, me associei a uns amigos que já estavam no ramo e emprestei toda a minha experiência no trato com a inadimplência, principalmente com àqueles mais reticentes, e ai a mercadoria que saía enxuta, voltava “gordinha” e dentro do prazo, foi um sucesso só, bastava umas 2 “afiadinhas” dos dois lados, que o devedor se espremia, mas pagava, agora eu sou “mascate das finanças”, vamos fazer melhor, me chame simplesmente de financista…

Além disso, complementou Chica, em tom de empolgação: também estou fazendo uma breve experiência no ramo de locação de imóveis, muitos consideram como um segmento em ascensão, e resolvi fazer um ‘test drive” com uma casa de minha propriedade.

Percebi, mormente a euforia, que Chica denunciava um certo “ar” de preocupação misturada a emoção e nostalgia em seu semblante quando falou da casa alugada, no que ela resolveu esmiuçar esse novo ‘front’ no mercado imobiliário, narrando desde as características do imóvel até as alegrias e perrengues que passou ou vem passando com essa nova empreitada, no cenário resumido abaixo.

O imóvel, em estilo colonial, todo mobiliado, é uma casa no alto da Serra, como todos os apetrechos tecnológicos, com controle de luz automática e de temperatura e padrões de acabamento com tudo o que havia de mais moderno, além de área de lazer com piscina, churrasqueira, quartos amplos com suítes, móveis planejados, telas de pintores renascentistas, ‘closets’ , cozinha americana e cozinha rústica (fogão à lenha), sala de estar com ‘home teather’, sala de jantar com mesa para 12 pessoas, espaço gourmet, academia, uma verdadeira mansão “Hollywodiana” em pleno “coração” da zona da mata mineira.

Obviamente, Chica tinha plena consciência, de que um imóvel com essas características de sofisticação, somente poderia comportar um locatário requintado, de muito bom gosto e capacidade financeira, e após longo processo de pesquisa e análise foi selecionado um pretendente, ou melhor, uma pretendente, que Chica sequer conhecia o nome de batismo, só se sabia que ela atendia pelo nome de “Novelem”, ou “Noveléfila”, dizem que a ilustre locatária era aficionada por novelas e mini séries e seu sobrenome, também sugerido, se deu em razão de possuir uma “tartaruga macho” e como não reconhecia essa condição natural, só tratava o quelônio por “Tartarugo”, como a junção do nome e sobrenome é muito complexa, vamos tratá-la, simplesmente, pela abreviatura: “NT”.

A celebração do contrato ocorreu em meados do ano, naturalmente, um período de pouca pluviosidade, a locação era sinônimo de paz, uma verdadeira “lua de mel entre locadora e locatária, até que começou o revertério de estações e a sofisticada construção não demorou a apresentar suas vulnerabilidades. Caiu um verdadeiro dilúvio na cidade, e não havia impermeabilização que desse conta de tanta água, resultado é que a “mansão” se tornou um verdadeiro “Véu de Noiva”, jorrava água para todos os lados, empena daqui, estufa de lá, “piscininha” em todos os cômodos térreos das casa, colchão que mais parecia esponja, o imóvel era a expressão de um desastre natural, a caótica circunstância virou nitroglicerina pura, uma bomba prestes a explodir.

Chica, “cabra da peste”, sempre séria e responsável, imediatamente, convocou um exército de pedreiros, “mestres de obra” e marceneiros para contornar a situação, adotou todas as medidas corretivas e preventivas para aplacar tamanho transtorno, só não tinha ideia, que “NT”, no auge do desespero conjugado com destempero, destilaria “cobras e lagartos” nas redes sociais, foram produzidos vídeos em série, todos com comentários irônicos e pejorativos, e porque não dizer “venenosos”, e para acirrar ainda mais a situação, “NT” resolveu desdenhar da situação financeira e até das origens sertanejas de Chica, literalmente o “barraco estava montado”, sem dó nem piedade.

Chica, mesmo se reivindicando em uma fase, digamos “Zen”, não poderia tolerar o atrevimento, acelerou o “tapa-buraco” e mandou o recado na “lata” para a desaforada: Engula o que disse “NT”, se não quiser que sua língua seja degustada no vinho, se retrate nos retratos e nos vídeos, o aviso está dado. E podem ter convicção meus amigos, de que palavra de Chica era que pior que sentença de última instância, definitivamente, não cabia recurso.

Nessa hora, “NT” tomou um “choque de realidade, temerosa “pernas abaixo” com a previsível reação de Chica, NT tratou de botar “panos quentes com sedativo” para apaziguar o imbróglio, primeiro negociou com São Pedro um ‘upgrade’ para o prolongamento da estiagem, depois, ajoelhou-se diante do retrato da Santa Mascate e fez a promessa de se regenerar: “Perdoa Chica, nunca mais toco no seu Santo Nome nas redes sociais e nem na “Boca de Matilde”, e mesmo depois de toda essa constrição, se acontecer novamente a possibilidade de uma catástrofe, assumo o compromisso, desde já, de comprar uma lona lá em Itu que possa embalar toda a mansão, e se nem assim resolver, vou fazer aulas intensivas de natação, se não conseguir me proteger da chuva, pelo menos viro campeã olímpica”, conformando-se, humildemente, diante da falta de alternativas, e se apegando a premissa de “empoderamento” de que “os resignados serão poupados”.
Num gesto, do mais genuíno altruísmo, Chica resolveu relevar a afronta, não sem antes, balbuciar no ouvido de NT, que não teria outra língua para contar “histórias”, se acaso fugisse do “script” alinhavado.

Resultado é que NT permaneceu no imóvel, como uma espécie guardiã, e se tornou uma ardorosa seguidora de Chica Peixeira.

Nunca é demais repetir para aqueles que insistem em se interpor nos caminhos da mascate, em sua cartilha de virtudes não tem lugar para prosa ruim, a escolha de bênçãos ou maldições vem do arbítrio de cada um, por isso mesmo, nessa breve despedida, faço as minhas saudações a essa gloriosa personagem : SARAVÁ MÃE CHICA!!!! E tomem tento…

Publio Cunha é escritor, poeta, auditor fiscal, economista, ativista dos movimentos sociais. Em 2015, lançou o Livro “Da Vida a Poesia” na Bienal do Livro no Rio de Janeiro e posteriormente na Feira Literária de Paraty.

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