Por Rodrigo Pimentel*
Hoje vou contar-lhes um caso muito significativo para mim. Era ainda um jovem advogado (não que isso tenha muito tempo… rsrs), com escritório recém-fundado em Leopoldina.
Certo dia, chegou uma pessoa em minha sala, recordo-me muito bem dele, que havia trabalhado como eletricista em uma reforma na casa dos meus pais. Ele estava acometido de um câncer grave.
O câncer já estava num estágio avançado e precisava de um medicamento importado de altíssimo custo para o seu tratamento e não era fornecido pela rede pública.
Após analisar a questão, informei ao mesmo que seria o caso de entrar com uma ação judicial para obter a referida medicação. Não era um processo simples, uma vida estava em jogo, a responsabilidade era muito grande (e confesso que ali, recém-formado, me senti um pouco inseguro). Passei o valor dos honorários, mas ele disse-me que não tinha condições de pagar.
Ao final do expediente voltei para casa, e recordo-me, como se fosse nesse exato momento, de chorar copiosamente no banho (e olha que sou difícil de chorar hein… rsrs). Minhas lágrimas misturavam-se com a água do chuveiro e pensava: como poderia fazer aquilo?! Deus capacitou-me e tinha e as ferramentas necessárias para ajudar aquele homem, que, por falta de dinheiro, não tinha condições de me pagar para fazer tal feito.
Aquela situação inquietou-me tanto, que logo no início do dia seguinte liguei para ele e disse pra procurar-me no escritório, pois eu pegaria a ação dele. Ele então indagou-me, “mas Doutor, eu não tenho o dinheiro para entrar com a ação”. Eu disse: não tem problema, venha e eu o ajudarei.
Na tarde daquele mesmo dia ele procurou-me com a documentação em mãos e assinou a procuração. Em poucos dias a ação já estava pronta e distribuída no fórum. Ganhamos a medida liminar e ele passou a receber a medicação. Pouco tempo depois, apesar do uso desta, infelizmente ele veio a óbito.
Alguns podem pensar que tudo foi em vão, que não valeu a luta ou até julgarem o meu primeiro posicionamento (normal, eu mesmo o fiz horas depois do atendimento). Mas aquele processo, de certa forma, foi um paradigma na minha atuação como advogado, principalmente naqueles casos de advocacia “pro bono” (em que atuamos de forma gratuita e voluntária para as pessoas que não tem condições).
Aquele cliente e processo, uns dos primeiros que tive em Leopoldina quando retornei e abri meu escritório, deu-me a oportunidade de usar meu conhecimento e formação para fazer o bem. Ter conseguido a liminar, o fornecimento do medicamento, e ver a alegria e felicidade dele (e da família), com a esperança da cura no tratamento, foi altamente recompensador (ainda que não em dinheiro). Aquilo não teve preço, me marcou tanto que lembro até hoje (passados quase 15 anos).
Agradeço por Deus ter-me tocado e iluminado, “voltando atrás” na minha decisão e assumir o patrocínio daquela causa. Até hoje, de certa forma, acompanho seus familiares nas redes sociais (viúva e filhos, que ainda eram pequenos na época). Pouco tempo depois, tanto a viúva, quanto seus parentes, depositaram confiança em meus serviços e tivemos êxitos em outros processos da família.
Independentemente de ter conseguido outras ações com eles (e nessas ter recebido honorários), foi aquele primeiro processo que me marcou. Ali, de certa forma, foi um divisor de águas no rumo que daria à minha carreira: quando me deparar com uma situação como daquela, nunca mais “titubear” em ajudar. Quantas ações, nessa linha, pude atuar, ora de forma graciosa ou meramente simbólica!
De lá pra cá, como Deus tem abençoado-me tanto!! Em minha vida pessoal e também na profissional. Que eu nunca perca isso de vista e que Ele continue iluminando-me e usando-me como instrumento Dele sempre que puder e estiver ao meu alcance!
*Rodrigo Junqueira Reis Pimentel é Professor Universitário, Advogado pós-graduado em Direito Civil e Processual Civil e ex-presidente da Câmara Municipal de Leopoldina.









