A semana entre os dias 23 e 27 de setembro de 2024 foi marcada por eventos relevantes no mercado financeiro brasileiro, que revelaram uma conjuntura complexa, tanto no âmbito das empresas listadas na bolsa de valores quanto no cenário macroeconômico e social do país.
Em primeiro lugar, destacou-se o aumento no número de programas de recompra de ações por parte das empresas. Diante de um mercado de capitais fraco e com as ações sendo negociadas abaixo do valor “justo”, diversas empresas decidiram lançar programas de recompra. Ao recomprar suas ações e, em alguns casos, cancelá-las, as empresas conseguem reduzir a quantidade de papéis em circulação, aumentando assim o valor das ações remanescentes. Essa ação envia uma mensagem ao mercado de que a empresa confia na valorização de seus ativos. Além disso, os papéis adquiridos podem ser utilizados em programas de remuneração para executivos, o que também serve como uma estratégia de retenção de talentos.
Enquanto isso, o mercado de juros futuros viveu dias de tensão. A taxa do DI para janeiro de 2029 subiu para 12,475%, com o estresse se espalhando também para o mercado de câmbio e bolsa. A percepção de uma política fiscal menos austera que o esperado e a falta de comprometimento do governo em entregar um superávit fiscal adequado para estabilizar a dívida pública geraram incerteza entre os investidores. A deterioração da confiança afetou a economia real e as expectativas de crescimento para os próximos anos.
No campo da inflação, o Brasil apresentou uma desaceleração surpreendente, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subindo apenas 0,13% em setembro. A desaceleração foi impulsionada, principalmente, pela queda no preço da gasolina e do etanol. Embora o aumento das passagens aéreas tenha exercido pressão sobre a inflação, essa alta foi compensada pelas reduções nos preços dos combustíveis. A inflação acumulada em 12 meses também desacelerou, indicando um alívio temporário no custo de vida das famílias brasileiras.
Um tema de grande impacto social foi a revelação de que milhões de beneficiários do Bolsa Família utilizaram parte de seus recursos em apostas online. A transferência de R$ 3 bilhões via Pix para plataformas de apostas em agosto acendeu um alerta sobre o uso inadequado de recursos destinados ao amparo social. Esse fenômeno expõe a vulnerabilidade financeira das famílias de baixa renda e levanta questionamentos sobre a eficácia do controle dessas operações.
Ainda na esfera governamental, uma crise interna no IBGE veio à tona, com servidores denunciando a criação de um “IBGE paralelo”, liderado por Marcio Pochmann. A criação de uma fundação chamada IBGE+ sem consulta interna gerou descontentamento entre os servidores, que criticaram o autoritarismo e a falta de transparência da atual gestão. A crise institucional pode prejudicar a credibilidade do instituto, responsável pela produção de estatísticas fundamentais para a formulação de políticas públicas.
Por fim, no mercado financeiro, a bolsa de valores encerrou a semana em alta, com um aumento de 1,13%, enquanto o dólar apresentou uma queda de 1,63%, fechando a R$ 5,43.
Entretanto, no acumulado do ano, a bolsa brasileira apresenta uma queda de 1,1%, ao passo que o dólar registra uma valorização de 11,9%. Esses resultados refletem a volatilidade e a incerteza que dominam o cenário econômico global, influenciado pelas políticas monetárias dos Estados Unidos e pelas incertezas fiscais no Brasil.
Esses eventos mostram como a interseção entre decisões empresariais, políticas econômicas e questões sociais influencia diretamente o comportamento dos mercados e a economia como um todo. A semana, portanto, foi um reflexo das tensões e desafios que o Brasil enfrenta no curto e médio prazo.
Júnior Montan é assessor de investimentos da InvestSmart-XP; graduado em Economia pela Uni Dom Bosco – Paraná.