
Para revelar com maestria os nossos pensamentos usamos as palavras e a arte da gramática como ferramenta linguística. Juntamos letras para formar palavras e dar significados às coisas da natureza e aos produtos da nossa arte. Agregamos adjetivos aos nomes que determinam a extensão individual que se aplica a qualquer nome comum sendo, portanto, os verbos responsáveis para a contribuição dos atributos que lhes são designados.
Abá aíba é uma palavra proveniente da língua tupi. Abá (índios) e aíba, um vocábulo traduzido como detentor de vários predicados de conotações perversas.
Este topônimo originário da língua tupi guarani foi empregado para designação de uma vila no apagar das luzes do oitocentos e os ‘abás’, habitantes remotos daquela região, os portadores de tantos atributos, deixaram para o homem abaibense o legado do nome Abaíba.
Em meio a um espaço intuitivo, numa depressão alongada da superfície terrestre, entre vertentes inclinadas deu-se o assentamento da pedra fundamental para marcar o nascimento do povoado de Vila Isabel, primeiro nome e/ou apelido do distrito em tela, no ano de 1890.
Os verbos conjuntivos, pare, olhe, escute foram os indicadores para a travessia na linha da estação de Santa Isabel. Estação de trem criada em 1875 pertencente à Estrada de Ferro Leopoldina que permutava com a província do Rio de Janeiro correspondências agrupadas em malotes postais da região da zona da Mata Mineira, como consta num recorte de jornal garimpado por Ralph M. Giesbrecht e et al*.
Lugarejo iluminado e protegido pela efígie de Santa Isabel, cuja história revela uma mulher de personalidade forte e mediadora dos conflitos humanos. O nome passa a existir em tributo a uma das grandes fazendas da região. A escolha do nome, provavelmente se deveu aos ínfimos predicados pessoais, inteligência e diplomacia da religiosa, que do alto da capela, foi intercessora e testemunha de uma convivência pacífica entre os primeiros habitantes da região. Habitantes que, segundo as definições empíricas de seus atributos, pela não convivência com o homem branco carregavam o estigma de maus e ferozes – os índios.
Baseados em dogmas estabelecidos pela igreja católica, uma prática medieval é evidenciada na escadaria de acesso à igreja católica da sede do distrito nos quinze painéis afixados nos patamares da escada – a do exercício da Via Crucis. Ali se pode fazer uma leitura da vivência e das experiências de cada indivíduo do lugar. A vivência religiosa, cujas ações são intransferíveis e universalmente pessoais, que dão significado a um monossílabo tônico intenso que não precisa se apoiar em outra palavra para possuir um valor – a Fé.
E a história revela que, certificado o nascimento do distrito, no ritmo de passadas firmes e elegantes, chega nesta mesma época o primeiro plantel de cavalo Manga Larga Marchador. Segundo as impressões dos proprietários desta raça é um cavalo de marcha única, sela dócil, macio e elegante de grande valor comercial, que trouxe e, ainda, traz divisas para os criadores da região.
Em dezesseis de julho de 2022 Abaíba esteve em festa. Trafegando por uma estrada de chão repaginada, com direito a beber água potável em uma nascente de águas cristalinas, os transeuntes tiveram oportunidade de marcar o tempo da viagem e a quilometragem por meio das placas de sinalização muito bem posicionadas em todo seu percurso.
Logo na chegada tiveram a oportunidade de participar da reinauguração do Centro Educacional – Escola Municipal Francisco Pinheiro de Lacerda, que no realce das cores azul e branca das paredes protegem mobiliários coloridos, lousas de vidro de design modernos, computadores, biblioteca, brinquedoteca etc.
Recepcionados pela direção e coordenação da escola, os visitantes tiveram a chance de sentarem à mesa do refeitório e saborearem os deliciosos petiscos feitos pelas mãos das quituteiras da região para o café da manhã de um dia festivo.
Após os protocolos da inauguração, os convidados seguiram para a praça da estação. Lugar especial, onde o trem muito apitou, hoje não apita mais. Lá encontraram os responsáveis pelo Projeto de Ação Social ‘Prefeitura na Comunidade’ prestando serviços sociais importantes à população abaibense.
Ainda no vaivém gramatical, brincamos com os termos Ka’a e pûer – um jogo de palavras que significa ‘capoeira’, cuja junção dos termos ka’a (“mata”) e pûer (“que foi”) se refere às áreas de mata rasa do interior do Brasil na linguagem dos indios.
A capoeira a que me refiro no momento não é a de uma mata rasa, mas uma palavra que revela sentimentos em sua apresentação.
Atração escolhida pelos organizadores, por ser um jogo, ou uma dança cultural, que representou a resistência dos escravos nos tempos do império. Este jogo, ou esta dança, mantenedora de aspectos característicos do sincretismo religioso brasileiro foi uma atividade responsável pelo resgate de valores indígenas e africanos. É hoje Patrimônio Imaterial da Humanidade. Se apresenta como símbolo da cultura afro-brasileira da miscigenação de etnia e da resistência ao abuso. Problemática vivida no país e, especificamente, na região em tela, nos tempos do escravismo no Brasil.
E as comemorações encerraram ao som do berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco. O grupo de capoeira Cobrinha, comandado pelo mestre Dimas deu o seu recado. Pernas, braços e corpos volitaram pelos ares num jogo sincronizado de dança, luta e arte. Uma expressão corporal de gestos comuns, de jeito solto e ágil, que permitiu uma linguagem, sem palavras, revelando sentimentos e evidenciando imagens capazes de atrair um público significativo.
Parabéns à população de Abá aibana ou abaibense!
Luiza Helena Morais Barbosa
Pedagoga, Mestre em Letras e Lit. Brasileira






