Por Luiza Helena Morais Barbosa*
Conforme a simbologia chinesa, 2022 será um ano intenso porque é representado pelo tigre da Água, uma vez que esse animal não faz nada de forma delicada. Considerado o rei dos animais, o tigre pode simbolizar poder, coragem, confiança e liderança e, conforme a tradição chinesa, o espanto para maus agouros. O ano do tigre tem sido associado, ainda, a vitalidade e força, e apontado, empiricamente, como o momento para o fim da pandemia da Covid-19 e, consequentemente, melhoria na qualidade de vida das pessoas.
Marcado por uma energia de mudança, o mês de fevereiro inicia com energia da lua nova, fenômeno pouco frequente para o primeiro dia do mês. A energia lunar que favorece o impulso e o movimento é reforçada por Vênus e Mercúrio que deixaram de estar retrógrados neste período. Uma conjunção de lua e sol faz-nos pesar os prós e os contras nas decisões que tomamos nos trazendo um sentido de muita responsabilidade e compromissos.
E foi assim…
O carro adesivado com a logomarca do poder público atravessa a linha da estação e para bem em frente à linha de guarida da praça. A poucos dias do mês de fevereiro, após uma forte chuva, tinha vindo um pessoal do Social e outro da Defesa Civil para inspecionar uma casa que estava prestes a desabar devido à queda de um barranco, em detrimento da chuva que caiu torrencialmente naquela região.
As equipes de trabalho repartidas em dois grupos distintos entram com muito cuidado nos cômodos da casa, conversam e com muito zelo dão a notícia que todos esperavam, mas que não queriam ouvir. “A casa precisa ser desocupada e interditada pela defesa civil”.
Dava pena ver em um dos cômodos da casa as janelas cobertas pela lama que pressionava as máquinas de costura soterradas pelos escombros da parede embebidos pela terra avermelhada enlamaçada. Máquinas estas, ferramentas indispensaveis para confecção de laços de fita de tecidos para adornar os cabelos das crianças – fonte de renda de um dos membros daquela família. E bem perto da porta, a cômoda branca, ainda intacta, escondia cuidadosamente, no interior de suas gavetas as identidades e outros documentos de todos os membros da casa. Emperrada do jeito que estava não tinha como movê-la dali.
As pessoas já estavam amontoando em volta dos veículos estacionados na rua para esperarem o desenrolar dos fatos. Elas não pareciam entristecidas. Conversavam. Ora falavam alto, ora cochichavam. Cada um argumentando no falar com esperteza, como sabendo mais do que os outros a prática do acontecer das coisas do dia a dia daquela localidade e, principalmente a partir de uma tragédia.
E foi chegando mais gente. O movimento era intenso: crianças, moças, rapazes e pessoas mais velhas. Quase no final da visita, de um dos lados do barranco desmoronado aparece um senhor bastante cabisbaixo. Com trajes e botas surradas pela labuta diária se apresenta. Era a pessoa mais esperada pelos presentes – o chefe da família que seria desalojada. Foi um momento de muita apreensão.
A hora era de sol do meio dia — o povo se ajeitava debaixo da sombra das árvores enfileiradas na margem da rua e, curiosamente, espiava. Espiava em meio às reluzencias dos raios do sol. Todos achavam que ele ia muito esbravejar. Mas, não. Sua fisionomia parecia estar vivendo um momento surreal, de muita distância de nossos olhos. As paredes caíram sem piedade nenhuma, sem que a gente pudesse imaginar que tal fato desta natureza pudesse acontecer. Muito difícil de acostumar e de entender. Não sendo o imóvel possível de morar, para onde ia, para onde levaria sua familia?
Com muita habilidade e destreza as equipes da prefeitura foram mostrando e explicando o risco que teria se permanecessem naquele lugar. O conflito entre a razão e a emoção foi se equilibando no embate da tomada de decisão. E foi o que aconteceu. Saíram de seus lares conscientes do perigo iminente e, quando…
No dia seguinte, uma tromba dágua cai naquela região e submerge quase todo o distrito. Poucos moradores tiveram a oportunidade de salvar seus pertences. Em um pequeno sobrado, a família desalojada na véspera pode observar a ironia do destino, que nos faz pensar que, nem sempre as pessoas controlam o que vai acontecer nas suas vidas e na das outras pessoas.
E a estação estava lá, ponto de referência do lugar, no mesmo espaço em que um dia o trem passou, incorporou a vida interiorana e deixou vários legados para a história do distrito de Ribeiro Junqueira. Esse veículo em seus trilhos foi considerado, em tempos remotos, um meio de transporte quase monopolístico. Em meados do século XX, as estações eram, em geral, monumentos arquitetônicos que, durante alguns anos tiveram momentos de muita movimentação e de muita glória. Hoje, pode-se observar aquelas que foram preservadas por meio de fotografias, por narrativas e por suas lindas histórias. A estação de Campo Limpo, hoje Ribeiro Junqueira, ainda resiste às pressões do tempo e das tempestades.
De acordo com sua história essa estação foi inaugurada nas últimas décadas do oitocentos. Esteve muito bem conservada até algumas décadas ao lado da linha por onde passavam os cargueiros que transportavam rochas minerais.
Hoje desativada, mas de pé em sua forte estrutura assiste ao movimento de pessoas indo e vindo, crianças brincando, homens e mulheres conversando por toda parte e, novamente o pessoal da Prefeitura chega para mais uma ação. Não para interdição, mas para prestação de serviços públicos importantes e necessários a todos os moradores da região. Uma atividade de extensão dos trabalhos de todas as secretarias, coordenado pela Secretaria de Assistência Social.
Prefeitura na Comunidade – projeto que tem por objetivo levar os serviços públicos essenciais àqueles que estão nos lugares mais distantes e que necessitam dos olhares de pessoas que tem a capacidade de se assombrar diante de coisas aparentemente banais.

(Texto inspirado nos contos de João Guimarães Rosa)
*Pedagoga e Mestre em Letras e Literatura Brasileira






